O fenômeno das ilhas de calor urbanas tem elevado em até 10°C a mais do que nas regiões verdes a sensação térmica em áreas densamente construídas, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, bairros com menos áreas arborizadas e maior concentração de concreto registraram recordes de calor nos últimos verões, agravando problemas de saúde pública, consumo de energia e qualidade de vida da população.
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, a arquiteta e urbanista, mestra em Ambiente Construído, Naiara Vilela Costa, analisa como a criação de áreas verdes pode ajudar a reduzir os efeitos dessas ilhas de calor, trazendo benefícios como o aumento do conforto térmico nas cidades, a redução da temperatura do ar, o aumento da umidade relativa e a oferta de sombra.
Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Estácio Resende, a especialista cita dados da engenheira e pesquisadora norte-americana Lisa Gartland, que em seu livro ‘Ilhas de calor: como mitigar zonas de calor em áreas urbanas’, aponta que áreas urbanas sem vegetação podem ser de 2 a 7 °C mais quentes do que áreas verdes próximas, especialmente em dias de verão.
“A autora também destaca que a presença de árvores pode reduzir em até 1 a 3 °C a temperatura interna de edificações próximas. As áreas verdes promovem essa redução por meio de mecanismos naturais de regulação térmica, como sombreamento, evapotranspiração, substituição de superfícies impermeáveis e melhoria da circulação de ar”, explica Naiara.
A profissional argumenta que é possível planejar as cidades de forma mais inteligente, com estratégias como o uso misto e adensamento equilibrado dos espaços urbanos; inserção de microáreas verdes; ruas verdes e arborização viária; integração com a infraestrutura urbana; além de participação comunitária e gestão democrática do espaço. Essas estratégias podem ser incorporadas ao Plano Diretor.
“O Plano Diretor das cidades pode ser uma ferramenta eficaz para ampliar e proteger as áreas verdes, por meio do zoneamento ambiental e construtivo, recuos de edificações, legislações específicas para novos empreendimentos, entre outras ações. A Lei de Uso e Ocupação do Solo também é fundamental para preservar o meio ambiente, garantir o conforto urbano e promover o uso mais democrático do espaço urbano”, analisa.
Segundo a arquiteta e urbanista, existe uma metáfora popular que diz que “as árvores são o ar-condicionado das cidades”.
“Instituições como a ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos) já utilizaram essa frase, ou variações dela, em campanhas e publicações para destacar a importância da vegetação urbana no combate ao aquecimento nas áreas urbanas”.
Na análise da professora da Estácio, o tema merece destaque no Dia Mundial do Meio Ambiente, pois está diretamente ligado à qualidade de vida nas cidades e à luta contra as mudanças climáticas — dois dos maiores desafios ambientais da atualidade.
A importância das áreas verdes nas zonas urbanas
A arquiteta e urbanista Naiara Vilela explica ainda que as áreas verdes ajudam a:
-Reduzir as temperaturas urbanas, combatendo as ilhas de calor;
-Melhorar a qualidade do ar e da água;
-Promover o bem-estar físico e mental da população;
-Preservar a biodiversidade urbana;
-Contribuir para a resiliência climática das cidades.
“Vale ressaltar que o meio ambiente é o foco principal dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, estando diretamente vinculado ao Objetivo 13 — Ação contra a mudança global do clima; e a Organização Mundial da Saúde recomenda um mínimo de 9 m² de área verde por habitante, com uma meta ideal de 12 a 16m² por pessoa para garantir qualidade ambiental e bem-estar nas áreas urbanas”.
A professora da Estácio reforça que é possível planejar as cidades de forma mais eficiente, com estratégias como: uso misto e adensamento equilibrado; criação de microáreas verdes; ruas verdes; arborização viária; integração com infraestrutura urbana; e participação comunitária. Como exemplo positivo, ela cita Curitiba (PR), referência nacional em planejamento urbano com foco ambiental, que possui mais de 60 m² de área verde por habitante — número muito acima da recomendação da OMS.
População deve ser incentivada a participar
Naiara Vilela destaca a importância de incluir a população na preservação das áreas verdes, o que contribui para fortalecer o senso de pertencimento, garantir a conservação a longo prazo, ampliar o conhecimento ambiental, melhorar a gestão, promover inclusão social e democratizar o uso dos espaços livres urbanos.
“Hoje somos reféns da climatização artificial e sofremos com o desconforto térmico, causado em grande parte pela agressão ao meio ambiente, pelo adensamento urbano e pelo uso inadequado de tecnologias ou materiais que geram mais calor. É o momento de virar a chave, investir em bom planejamento e adotar estratégias passivas de conforto ambiental, que utilizam os recursos naturais e a própria física para oferecer bem-estar aos usuários das cidades e das edificações”, pondera a arquiteta.