Luciane Barbosa Farias, mais conhecida como “dama do tráfico amazonense é integrante da Facção criminosa Carioca Comando Vermelho na franquia da facção no Amazonas”, esteve em audiências com dois secretários e dois diretores da pasta de Flávio Dino num período de 3 meses. O nome dela não consta nas agendas oficiais.
No Amazonas, Luciane é casada há 11 anos com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que ficou conhecido por ostentar a “fama de indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia”. O Ministério Público relata que ele possui poder econômico advindo do tráfico de drogas e costuma ser cruel com seus devedores, “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”, segundo um trecho da denúncia do procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, de agosto de 2018.
Ela e o marido foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Tio Patinhas cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM). Luciane foi sentenciada a dez anos e recorre em liberdade. Os métodos violentos de Tio Patinhas marcam a população amazonense com terror e medo.
Tio Patinhas também já posou para foto segurando uma metralhadora de artilharia antiaérea calibre .30, capaz de abater aeronaves e atravessar veículos blindados.
Procurado, o Ministério da Justiça admite que a “cidadã”, como se referem a Luciene, foi recebida por secretários do ministro Flávio Dino, mas afirma que ela integrou uma comitiva e era “impossível” o setor de inteligência detectar previamente a presença dela. Leia a nota na íntegra ao fim da matéria. Agendas públicas de autoridades costumam trazer informações sobre os demais participantes das reuniões, e não apenas da pessoa que pediu a agenda. A falta de controle pode inclusive representar um risco para os servidores.
Sobre Luciane, o Ministério Público do Amazonas aponta que ela atuou como o “braço financeiro” da operação do marido. “Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ’empresas laranjas’.” Graças ao seu empenho dentro da facção, ela “conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa ‘Comando Vermelho'”, detalha a acusação.
Em maio, Luciane entrou no Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). No papel, uma ONG de defesa dos direitos dos presos e que, segundo a Polícia Civil do Amazonas, atua em prol dos detentos ligados à facção Comando Vermelho. Criada no ano passado, a organização também seria financiada com dinheiro do tráfico, de acordo com investigação sigilosa à qual o Jornal Estadão teve acesso.
No dia 19 de março, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino. Pouco tempo depois, a 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
Luciane costuma circular por Brasília acompanhada da advogada Camila Guimarães de Lima e de uma amiga conhecida no mundo político: a ex-deputada estadual pelo PSOL Janira Rocha (RJ). Condenada em 2021 sob a acusação de fazer “rachadinha” com os salários de seus assessores na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) ambas passeiam por alguns ministérios como no Ministério dos Direitos Humanos, Janira voltou aos holofotes recentemente ao assumir a defesa da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, condenada no ano passado pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo. Janira participou, ao lado de Luciane, da assembleia de criação do Instituto Liberdade do Amazonas.
Deputado Guilherme Boulos também participou de uma reunião na Câmara dos Deputados com Luciane Barbosa Farias, esposa de Clemilson dos Santos Farias, líder do Comando Vermelho no Amazonas. No Instagram, Luciane “agradece a oportunidade de ser recebida e ouvida com toda atenção e solidariedade a nossa pauta.” A reunião entre o Deputado Guilherme Boulos e Luciane aconteceu em 04 de maio.
Luciene também posou em fotos com o deputado André Janones (AVANTE – MG). Segundo o deputado em nota oficial e seu perfil no Twitter X diz ser normal, pois a câmara dos deputados é a casa do povo. “Eu quero deixar claro que a câmara é aberta para visitas, é a casa do povo. Eu atendo a todos que chegam no meu gabinete ou me encontram nos corredores, sem distinção, uma vez que a segurança e a identificação é feita pela polícia da câmara, não por mim. Logo, se a pessoa entrou, é porque ela pode estar lá dentro. Naquele 16 de março, foram em meu gabinete diversas mulheres que se apresentaram como representantes de associações civis em defesa dos direitos humanos, bem como duas mães que tiveram os filhos vítimas de crimes e aguardam por Justiça”.
Nos registros do Ministério da Justiça consta apenas o nome de Janira na audiência com o secretário de políticas penais. O nome de Luciane não aparece, que seria bem óbvio, pois certamente não conseguiria acesso por réu em segunda instância por crimes cometidos em seu Estado.
Luciane e Janira circulam nos corredores em Brasília, nas articulações políticas no Congresso Nacional, em reuniões no Ministério da Justiça e no debate de construção de estratégias para trazer a luz a pauta de direitos fundamentais e humanos para o sistema prisional brasileiro. “Só deu esse time de mulheres (…) Ficou notória a diferença política na sensibilidade de tratar o tema, outro governo, outra conversa, seguiremos!!!”, escreveu Janira ao postar uma foto com Luciane no Instagram.
País tem crise na segurança pública, no mês passado, o governo decretou uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em portos e aeroportos no Rio de Janeiro e em São Paulo, porém no que parece, o tal combate ao crime organizado é apenas para desarticular Milicianos e traficantes que não seja ligados ao CV (Comando Vermelho).
A falta de competência do Governo Lula junto a políticas públicas que sejam eficazes para combater o crime organizado já era esperado por muitos formadores de opinião, tendo em vista que a maioria das pautas defendidas pela esquerda e por ativistas militantes que apóiam Lula, acaba favorecendo membros de facções criminosas.
A atuação de Flávio Dino no comando do ministério, vem recebendo críticas inclusive dentro do próprio PT. Como mostrou a Coluna do Estadão, petistas passaram a reclamar que o governo não tem nenhum projeto robusto no setor e a reivindicar o controle da pasta. Entre a população, a segurança pública foi considerada a área do governo com a pior avaliação em pesquisa realizada pelo Instituto Atlas em setembro.
Por sua vez, o Ministério da Justiça enviou a seguinte nota, reproduzida abaixo na íntegra:
“No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.
A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.
Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM.
Não houve qualquer outro andamento do tema.
Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidades de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.
Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais.” Porém, não foram encontrados o nome de Luciene em nenhum cadastro realizado pelo MJSP.