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Profissional odontóloga que se dedica ao atendimento de pacientes especiais tem ganhado a confiança dos pais e dos pequenos pacientes em Queimados, na Baixada Fluminense

Foto: Arquivo pessoal

Crianças especiais são as que possuem má formação genética ou que sofreram algum tipo de alteração durante o parto. Autismo, deficiência mental, auditiva e visual, síndrome de Down, microcefalia e paralisia cerebral são as necessidades mais comuns de serem vistas. Existem muitas outras que não são tão conhecidas.

Quem tem uma criança especial em casa precisa ficar atento aos cuidados específicos e às necessidades do diagnóstico da criança. Em alguns casos, é válido fazer adaptações no ambiente de vivência ou até mesmo encaminhá-la para tratamentos com especialistas, como terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicoterapeuta, psicopedagogo, entre outros. 

Dentre estes outros tratamentos um, em especial, é um pouco deixado de lado devido a vários fatores. Estamos falando do tratamento odontológico.

Para falar mais sobre o tratamento odontológico para crianças especiais ou com alguma síndrome, a apresentadora da GBC TV Brasil, Luciana Felipe, conversou com a dentista, Drª Rose (especialista em tratamento OPNE) para conhecermos um pouco mais deste universo tão pouco falado ou conhecido.

Apresentação:

Doutora Rose – Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é Drª Rose, tenho 48 anos, casada, tenho uma ffilha e sou moradora do município de Queimados, na Baixada Fluminense. Sou formada em Odontologia, há pouco tempo, mas sempre tive o sonho de ser uma profissional de Odontologia Infantil. Faço pós-graduação na UNIG (Universidade de Nova Iguaçu), e estarei me formando em OPNE (Odontologia Pacientes Portadores de Necessidades Especiais).

Luciana Felipe: Quando ainda graduanda você já tinha como objetivo principal trabalhar com crianças especiais?

Drª Rose: Não. Quando ingressei no ensino superior e escolhi a Odontologia já sabia que iria trabalhar com crianças mas não com as especiais. No terceiro período da faculdade, ingressei em um curso de Capacitação para Pacientes Especiais Adulto e então meu professor, observando o meu diferencial nesta área, começou a me fazer um convite para ingressar na área. Em janeiro desse ano estava em dúvida se fazia Pós em OPNE ou em odontopediatria, mais escolhi OPNE após meu professor explicar que meu diferencial em atendimento com crianças especiais fica muito mais fácil quando tenho conhecimento de síndromes.

Luciana Felipe: Quais  os tipos de problemas podemos especificar uma criança especial?

Drª Rose: Podemos falar duas as síndromes e o autismo. E em ambas o paciente faz uso de medicações e pode ocorrer o fato da criança não poder usar anestesia junto com a medicação.

Por isso a importância da minha escolha, como mencionei na minha fala anterior, pois a criança que não possui nenhum comprometimento sistêmico ou alguma síndrome, ela é mais fácil de se lidar.

Meu professor sempre falava que quando uma criança chegasse em meu consultório que é especial eu iria achar mais fácil tratar essa criança especial, por já ter conhecimento na área.

Luciana Felipe: Como está sendo pra você esta experiência em cuidar destas crianças especiais?

Foto: Arquivo pessoal

Drª Rose: Tem sido maravilhoso. Me sinto muito feliz e realizada com o que faço.

Luciana Felipe Como os pais ou o responsável pela criança especial consegue conduzi-la ao consultório odontológico?

Drª Rose: No caso do autista, quando a criança tem um grau leve ou moderado, os pais conversam com essa criança explicando que naquele dia ela vai passar por uma consulta e vai conhecer uma doutora no dentista. Quando o grau está em um nível mais elevado, no grau 3, já não se fala dessa forma.

Eu tive uma experiência com uma criança de grau 3 que a mãe falou que iria levá-la ao consultório e ao chegar no local a criança começou a gritar dizendo que não queria ir pro dentista pois a primeira experiência que ela teve foi com um profissional que não era especialista da área. A criança precisava fazer um procedimento de extração e o profissional fez a força, sem ele querer e como o profissional não entendia isso causou um trauma na criança. Essa foi a imagem que ele guardou de um dentista e desde então ele passou a dizer que não gostava de dentista e quando ele chegou ao consultório começou a gritar.

Pra conseguir atendê-lo tive que usar a criatividade, me sentei no chão com ele, fui conversando dizendo que eu não era dentista e sim uma amiga dele, que eu gostava dele, que o amava e depois de muito diálogo ele já na cadeira foi abrindo a boquinha, eu dei um espelhinho pra ele ir olhando e assim consegui fazer o atendimento.

Luciana Felipe: E quando é a primeira vez da criança no dentista?

Drª Rose: Bom, eu trabalho de forma lúdica. Primeiro começo com uma brincadeira, sempre falando que eu não sou a dentista e sim uma amiga fazendo com que essa criança crie confiança em mim. Quando percebe que ela já está confiante, a dito na cadeira e continuo a conversar. Existem três técnicas para que eu utilizo para conseguir realizar o procedimento: dizer, mostrar e fazer. Ou seja, primeiro eu falo o que vou fazer, mostro e depois eu faço.

Pego espelhinho e digo: “agora a tia vai mostrar o seu dentinho, abre a boquinha de jacaré”. Às vezes dou um espelho maior, a deixo segurar e mostro como irei fazer com ela para que ela possa acompanhar o procedimento,  vou fazendo aos poucos e assim consigo realizar o tratamento ou procedimento a ser realizado naquele momento.

Mas, a forma mais acertativa é os pais ou o responsável não comentar que irá levá-la ao dentista por vários fatores, como por exemplo, quem é o dentista (se a criança tiver um trauma não vai querer mais voltar), se ela não conhece surge aquela dúvida (o que eu irei fazer lá?).

Luciana Felipe: A forma como o profissional se veste influencia na confiança da criança especial?

Drª Rose: Bom, geralmente uso roupas coloridas mas há profissionais que usam roupa branca, o que costuma causar muito bloqueio na criança. Por isso, procuro sempre me caracterizar ou usar roupa colorida.

Luciana Felipe: Qual a maior dificuldade que os pais ou responsáveis encontram em uma criança especial quando o assunto é higiene bucal?

Drª Rose: Este é realmente um grande problema pois muitos pais não conseguem colocar uma escova na boca da criança, pois ela tem medo da escova e daí não consegue fazer a higiene corretamente. O ideal de uma escovação em uma criança não especial são, no mínimo, três vezes ao dia, coma especial alguns pais ou responsáveis conseguem fazer uma por semana, criando acúmulo de placa bacteriana que acaba se evoluindo para o tártaro. Quando essa criança vai ao consultório já com o tártaro, onde o instrumento utilizado pelo profissional é totalmente diferente dos procedimentos normais.

Foto: Arquivo pessoal

Luciana Felipe: Como agir com essa criança especial nesse caso em que ela já está com o tártaro?

Drª Rose: Então, como mencionei acima nos procedimentos considerados de rotina utilizamos uma escova de robinson com uma pastinha e a higiene está pronta. No caso do tártaro o procedimento é mais complicado, é necessário usar o ultrassom, que é um instrumento que vai batendo e cortando o tártaro. Em alguns casos a gengiva já está inflamada,já com uma gengivite e o tratamento acaba causando um trauma na criança.

Costumamos dizer que o tratamento com esse criança é com 4 mãos, ou seja, dois profissionais ou duas pessoas responsáveis pela criança a segura para que o procedimento possa ser realizado.

Luciana Felipe: Existe algum tabu que ainda precisa ser quebrado, principalmente com os pais destas crianças? Seria necessário mais conscientização principalmente para ajudar os pais destas crianças especiais?

Drª Rose: A grande dificuldade hoje é a condição financeira destes pais, por falta de recursos muitos não levam a criança ao consultório. Se leva para fazer outros tratamentos e o consultório odontológico sempre fica como última opção e muitas das vezes, por falta de recurso financeiro ou por falta de instrução, a não ida ao dentista causa a criança acaba perdendo alguns dentinhos, causando, em sua grande maioria na criança, um trauma psicológico, físico e psíquico.

Luciana Felipe: Qual o principal obstáculo que um profissional da sua área encontra ou enfrente atualmente?

Drª Rose: A falta de conhecimento e também a discriminação da sociedade que faz com que os pais adquiram um certo bloqueio. Mas acho que o principal de todos é os pais da criança especial aceitar que seu filho é especial e que precisa de ajuda.

Quando eles conseguem quebrar essa barreira fica mais fácil prosseguir para os tratamentos, sejam eles, odontológicos, médico ou que for. Isso pode interferir no tratamento da criança e aquela criança que tinha um grau leve acaba evoluindo para um grau maior por falta de um tratamento precoce.

A sociedade, infelizmente , ainda é muito má e preconceituosa contra pessoas ou crianças especiais ou com alguma síndrome.

Luciana Felipe: A falta de profissionais capacitados, seja em qualquer área, para tratamento de crianças especiais ou com alguma síndrome atualmente é um agravante?

Drª Rose: Sim. Hoje temos formados, no Brasil, 52 mil dentistas. Capacitados  para o trabalho com crianças especiais, 750 no Brasil. Portanto chega-se a conclusão que profissionais interessados em tratar os especiais ou com alguma síndrome ainda é muito pouco.

Destes 750 incluímos os já aposentados , os de idade já avançada, os que desistiram entre outros. Pode-se afirmar que, essas crianças especiais ou com alguma síndrome, podem contar apenas com 600 profissionais no Brasil.

Luciana Felipe: Que mensagem a Drª Rose deixa para os pais das crianças especiais ou com alguma síndrome?

Drª Rose: Que eles possam amar seus filhos do jeito que eles são, vencer as dificuldades  e obstáculos, e mostrar para a sociedade que os filhos deles são como qualquer outra criança.  Eles precisam ser amados, respeitados e merecem seu espaço na sociedade.

Busque conhecimento, pois o conhecimento ninguém tira de você!

By Luciana Felipe

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