Em Washington, poderia parecer improvável encontrar um vislumbre de otimismo após um ataque agressivo por parte do Irã, com drones e mísseis direcionados a Israel, que ameaçou envolver os Estados Unidos e a comunidade internacional em um conflito global. Contudo, seguindo uma resposta defensiva meticulosamente planejada pelo Presidente Joe Biden, que interceptou 99% dos projéteis, a administração norte-americana espera posicionar o ocorrido como um desfecho favorável.
Essa perspectiva foi veementemente expressa por Biden ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e replicada pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin, em comunicação com seu correspondente israelense, Yoav Gallant: “Considere isto uma vitória, aceite-a e não avance em atos que possam comprometê-la.“
Apesar desta orientação não se limitar apenas a manobras de relações públicas, é significativo o investimento dos Estados Unidos em mobilizar aliados e recursos diplomáticos no intuito de fortalecer as defesas contra possíveis represálias iranianas, particularmente após o ataque de 1º de abril ao consulado iraniano em Damasco.
Embora o episódio represente um momento de vitória para Israel, também é um ponto de triunfo para Biden. Consequentemente, uma contraofensiva por parte de Israel poderia pôr em risco não apenas a vitória recente, mas também a estabilidade regional. Oficiais dos Estados Unidos reconhecem que os acontecimentos do último fim de semana poderiam chegar a um término favorável, e que qualquer resposta militar israelita adicional poderia resultar em retrocesso.
Com pedidos diretos para que Netanyahu mantenha a calma e evite uma resposta militar imediata, e com Austin fazendo apelos semelhantes para Gallant – para uma melhor coordenação e comunicação com os Estados Unidos diante de quaisquer ações militares israelenses pendentes contra o Irã –, Biden busca manter a situação sob controle.
Caso os eventos permaneçam contidos conforme a aspiração de Biden, isso poderia significar um fortalecimento significativo nas relações entre os Estados Unidos e Israel, especialmente tendo em vista as tensões pré-existentes por causa da guerra em Gaza. A relação de Netanyahu com a Casa Branca e o Partido Democrata tem se deteriorado nos últimos meses, mas Biden fez um esforço para separar a política dos EUA em relação a Gaza do apoio norte-americano a Israel contra as ameaças iranianas.
Biden reiterou seu firme apoio a Israel nos últimos dias, recorrendo a frases de efeito familiares depois de um período de críticas e ameaças a mudanças políticas. Se Israel corresponder às sugestões de Biden e seu gabinete em relação ao Irã, poderá melhorar as relações com a base do Partido Democrata, além de potencialmente abrir portas para negociar nova assistência dos Estados Unidos com o apoio da ala democrata.
Isso também poderá resultar na focalização das críticas dos Democratas em questões específicas, como Gaza e os palestinos, uma vez que a maioria tem se esforçado para manter a assistência militar defensiva a Israel fora do debate sobre ajuda condicional.
Contudo, o Congresso enfrentará embates significativos relacionados à capacidade de fornecer a Israel 14 bilhões de dólares em assistência de emergência, uma soma que se tornou ponto de impasse político no governo de Biden por meses, em parte devido à conexão com o financiamento de emergência para a Ucrânia.
Lideranças democratas na Câmara têm tentado persuadir os membros progressistas a apoiarem o projeto de lei, inclusive argumentando a favor de Israel diante da ameaça iraniana, que é inegavelmente séria. Os desdobramentos deste fim de semana poderiam ser cruciais na obtenção de mais apoio à luz dos recentes perigos enfrentados por Israel.
Atualmente, os membros do Partido Republicano na Câmara encontram-se em preparações para submeter à consideração legislativa uma proposta de auxílio ao Estado de Israel. O contorno exato desta medida permanece incerto, podendo resultar no debate de um projeto de lei pré-existente relacionado com a Ucrânia, ou na formulação de uma nova iniciativa legislativa independente.
As estratégias previamente adotadas não lograram êxito em disponibilizar a Israel as verbas emergenciais requeridas. Uma tentativa anterior condicionou a assistência financeira a reduções no orçamento do Internal Revenue Service (IRS), ao passo que uma subsequente dispensou quaisquer condições. Esta última proposta conquistou maior respaldo do Partido Democrata em relação à primeira, todavia, confrontou-se com uma resistência substancial de membros do Partido Republicano que conservam uma perspectiva prudente em face do acréscimo nos dispêndios federais – mesmo quando se trata da segurança do aliado estadunidense.
Líderes legislativos de ambas as alas partidárias deram a entender que os eventos recentes no Oriente Médio representam um marco de significância comparável ao ocorrido no dia 7 de Outubro. No entanto, diferentemente das reações unânimes e bipartidárias que marcaram o apoio a Israel em sua ofensiva contra o Hamas nessa data, as reações atuais foram rapidamente pautadas por acusações recíprocas e partidarismo aceso.
Os membros do Partido Democrata imputaram aos Republicanos a responsabilidade pelo retardo no envio de auxílio financeiro a Israel. Por outro lado, os Republicanos lançaram aos Democratas a acusação de traírem os interesses israelenses. Ambos os lados proferiram alegações de que o contraparte teria contribuído para o declínio da capacidade dissuasiva israelense frente ao Irã, potencialmente responsável por intensificar a ameaça inicial.
Apesar da preferência da administração da Casa Branca em dissociar as tensões em Gaza das questões envolvendo o Irã, e a despeito da possibilidade de retorno a precedentes diplomáticos, é plausível que o posicionamento de Israel em Washington sofra alterações significativas. Esta mudança paradigmática no tratamento da questão israelense poderá ser ainda mais influenciada pelas decisões e ações que os dirigentes israelenses venham a tomar nas próximas horas e dias.